Após o aparecimento dos primeiros casos de COVID-19 no início de dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, na China, após o isolamento do vírus e constatação que se tratava de um vírus da família coronavírus (CoVs), houve uma corrida das farmacêuticas no desenvolvimento de vacinas que pudessem conter a propagação do vírus, diminuir o número de casos graves e principalmente o número de mortes.
Hoje, segundo a OMS, 295 vacinas estão sendo desenvolvidas, 112 delas na fase clínica e 183 na fase pré-clinica. No Brasil, as vacinas já aprovadas pela ANVISA e que estão sendo administradas são: Coronavac, Astrazênica, Pfizer e Janssen. O início da vacinação no Brasil se deu em meados de janeiro de 2021, priorizando os profissionais de saúde e idosos, e no momento, com uma maior disposição de vacinas por parte do governo federal, há uma aceleração na vacinação de adultos acima de 18 anos, e em alguns municípios se iniciou a vacinação da população acima dos 12 anos de idade.
No Brasil, até hoje, segundo o Ministério da Saúde, foram aplicadas 168 milhões de doses, sendo 117 milhões aplicadas em primeira dose e 51 milhões segunda doses, o que representa 53,2% e 22,9% da população vacinada de primeira e segunda dose, respectivamente. Em Pernambuco o percentual de vacinados em primeira dose é de 44% e de 16,6% em segunda dose, e em Recife 57,3% da população foi vacinada com a primeira dose e 29,6% em segunda dose.
Apesar da corrida dos laboratórios das grandes farmacêuticas do mundo, com financiamento público em alguma delas, para o desenvolvimento de vacinas contra o COVID-19, há um movimento anti-vacina que cresce baseados em ideologia política, crenças, na desconfiança sobre a eficácia da vacina, na falta de estudos a longo prazo dos efeitos colaterais da vacina, assim como na negação à ciência.
No nosso país, atrelado aos pontos abordados no parágrafo anterior, o Governo Federal investiu na substituição da vacina pelo tratamento precoce com drogas que comprovadamente não tem eficácia, tendo como garoto propaganda o Presidente da República, e na imunidade coletiva não vacinal. A política adotada pelo Governo Federal produziu até o momento 571 mil mortos e 20 milhões de infectados e o atraso no início da vacinação.
Como evidência da efetividade da vacina na redução do número de casos e morte por COVID-19, fiz uma análise da incidência e da taxa de mortalidade em todo o período da epidemia e a correlação com o percentual de vacinados ao longo do tempo e o número de casos e óbitos, considerando o mês como unidade de tempo. O modelo de regressão linear foi aplicado para estimar o comportamento do número de casos e óbitos (Y) em relação ao percentual da população vacinada (X), considerando o período de análise de janeiro a agosto de 2021. O modelo foi aplicado mesmo admitindo que o comportamento do número de casos e óbitos não é linear ao longo do período, sendo estimados um modelo para o percentual da população com primeira dose e outro modelo com o percentual da população com dose completa.
Considerando o Brasil como referência, se observa que a cada 1% de aumento da população vacinada em primeira dose, se espera, em média, uma redução de 14.404 casos de Covid-19 por mês, ou uma queda média na incidência de 6,85 casos por 100 mil habitantes por mês. Considerando o número de óbitos a queda média esperada é de 375 óbitos por mês ou uma redução média de 0,178 na taxa de mortalidade. Isso significa que se alcançarmos em um mês vacinar 20% da população em primeira dose, se evitaria 288 mil novos casos e 7.500 mortes em um mês.
Analisando o efeito da vacinação completa (duas doses), se observa que a cada 1% de aumento da população vacinada, se espera, em média, uma redução de 36.677 casos novos de Covid-19 por mês, ou uma queda média na incidência de 17,45 casos por 100 mil habitantes por mês. Considerando o número de óbitos a queda média esperada é de 885 óbitos por mês ou uma redução média de 0,421 na taxa de mortalidade por 100 mil habitantes. Fazendo a mesma correspondência, ao alcançarmos em um mês vacinar de forma completa 20% da população, significaria evitar 733 mil novos casos e 17.700 mortes em um mês.
Interpretando o coeficiente de correlação considerando o percentual da população vacinada em primeira dose como variável explicativa para o número de casos novos e mortes por Covid-19, observa-se que há uma relação inversamente proporcional entre as variáveis, ou seja, com o aumento do percentual da população vacinada há uma redução no número de casos e mortes, tendo como efeito de 53,4% (r = -0,534) relacionado ao aumento do percentual de vacinados na redução de casos novos, e de 33,8% (r = -0,338) na redução de mortes. A correlação com a segunda dose mostrou resultados semelhantes quando comparado o efeito da primeira dose na redução de novos casos e óbitos.
A figura apresentada mostra uma clara redução da incidência e na taxa de mortalidade por COVID-19 no Brasil e comportamento semelhante quando analisado o estado de Pernambuco e Recife, com resultados expressivos observados no avanço da vacinação, mesmo em primeira dose. Se observa que a partir de abril há uma redução significativa na incidência e taxa de mortalidade, tendo no mesmo mês um percentual de vacinados em primeira dose no Brasil de apenas 14% e de segunda dose de apenas 6,4% da população; e redução continuada com o avanço da vacinação.
Nessa simples análise se observa o benefício da vacina, mesmo com diferentes níveis de eficácia entre as vacinas dos diferentes laboratórios, o que demonstra a importância de se alcançar uma imunidade coletiva por meio da vacina para o controle e diminuição da circulação viral, diminuição de casos graves, e consequentemente ocupação de leitos, e redução dos óbitos. Para isso é preciso pensar no benefício coletivo de se vacinar, não deixando de lado as práticas de distanciamento social, uso de máscara e constante higienização das mãos para que em um breve futuro consigamos voltar a um “novo” normal.